quinta-feira, agosto 17, 2017

Salir de Matos em Parágrafos (5)

«As reuniões familiares, em que se juntam três, quatro, e até cinco gerações diferentes, são quase sempre espaços de boas memórias.
Depois do café e da sobremesa, é normal que os mais antigos escolham as histórias com mais humor da sua juventude, para retratarem um tempo tão diferente dos dias de hoje, em que por exemplo a exploração da mão de obra infantil era comum a todas as famílias. E também era a única possibilidade de se sobreviver, num tempo em que quase todas as pessoas eram pobres... principalmente quem vivia no campo, em aldeias profundamente rurais como era Salir de Matos.
Mesmo assim, há sempre um ou outro drama que se mistura, um sentimento de injustiça que se aviva, porque, ao contrário do que se pensa, não era mais fácil ser-se pai e mãe, nesse tempo em que quase eram proibidos os afectos.»

(escrito originalmente para as "Viagens")

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, agosto 15, 2017

Romeu e a Feira de 15 de Agosto


A Feira do 15 de Agosto das Caldas da Rainha continua a fazer-se, mas há muito que não é o acontecimento de outros tempos (a magia que acompanhou a nossa infância, fugiu...). Com as devidas distâncias era aquilo que conhecemos mais próximo do imaginário teatral e ficcional do Romeu, presente a espaços em livros como a "Roberta", "Bonecos de Luz" ou "O Vagabundo das Mãos de Oiro".

Claro que o Portugal da nossa infância (anos setenta...) é muito diferente do de Romeu dos anos vinte e trinta. Nessa altura, por sermos menino de cidade nem faziamos ideia que havia "cinema ambulante", que foi uma das primeiras coisas a maravilharem o grande dramaturgo e escritor almadense...

Mas havia o circo (sempre gostámos de palhaços...), os carroceis, o "poço da morte", que na época era uma das maiores aventuras que se podiam ver e que a mãe nos ia proibindo de ver. Mas houve um ano que assistimos mesmo aqueles malabaristas que com motas especiais, conseguiam andar de pernas para o ar e conduzir de olhos vendados...

Claro que falar desta "magia" aos nossos filhos, faz com que nos olhem de lado e pensem em coisas parecidas com a "pobreza franciscana"...

(texto publicado no blogue de homenagem a Romeu Correia e fotografia de Luís Eme)