quarta-feira, julho 12, 2017

Salir de Matos em Parágrafos (4)

«Todas as aldeias eram fartas em tabernas (muitas com a mercearia mesmo ali ao lado), até pelo menos aos anos oitenta. Salir de Matos não era excepção. Os cafés demoraram um pouco mais a entrar nestas pequenas localidades que nas cidades...
A taberna que eu gostava mais era a do Ti Zé David, pela proximidade da casa da avó e também pelo jeito peculiar do dono em levar à certa toda a gente, dos 8 aos 88 anos.
Era um finório que tinha os bolsos sempre cheios de histórias que encantavam a pequenada... É por isso que o Ti Zé David continua a ser uma das boas memórias de Salir...»

(escrito originalmente para as "Viagens")

(Fotografia de Xavier  Miserachs)

sábado, julho 08, 2017

Salir de Matos em Parágrafos (3)


«Esta podia ser a esquina da rua das traseiras da casa da avó, e estes muros os dos nossos pátios, que eu e o meu irmão chegámos a caiar, para oferecer aquele branco tão característico das aldeias portuguesas, especialmente as do litoral e do Sul.
Também as vestes da senhora podiam ser as das mulheres de idade destes lugares. Normalmente sobreviviam aos maridos e faziam o luto no resto das suas vidas...
Eram aldeias a preto e branco.»

(Escrito originalmente para as "Viagens")

(Fotografia de Ramon Masats)

segunda-feira, julho 03, 2017

Salir de Matos em Parágrafos (2)


«A presença masculina no avô esteve ausente no "primeiro parágrafo", porque a casa dos meus avós maternos foi sempre a "casa da avó", com a sua complacência. Ele seria quanto muito dono das fazendas e dos pátios, onde viviam os animais do "jardim zoológico familiar".
Talvez esteja aqui presente muito da tradicional sabedoria popular, que nos diz que a rua é dos homens e a casa das mulheres...»

(escrito originalmente para as "Viagens")

(Fotografia de Eládio Begega - a minha avó era muito mais bonita...)

sábado, julho 01, 2017

Salir de Matos em Parágrafos (1)


«Embora sempre me lembrasse da casa da avó com luz eléctrica (foi das primeiras pessoas da aldeia a ter esta modernidade, graças ao tio Zé, electricista...), adorava visitar de noite a casa dos Antunes, ainda iluminada pelos candeeiros de petróleo, por todo aquele jogo de sombras digno de qualquer palco, desde os corpos que se agigantavam nas paredes aos rostos que quase se tornavam fantasmagóricos, por serem iluminados por pontas.»

(publicado inicialmente dentro de uma posta no meu  "Largo da Memória" - 30 de Junho de 2017)

(Fotografia de Helen Levitt)